terça-feira, 22 de novembro de 2016

Escrevo

Escrevo, porque como vocês sabem, me alivia a alma. Acho até meio brega essa frase, mas alivia. 

Escrevo, porque quinta-feira é meu aniversário, e vai ser foda. (pode falar foda no blog?) Como vocês também sabem, amo fazer aniversário. Continuo amando, mas no final do dia vou sair da UTI neonatal ainda sem minha pequena blondina (ela é muitooo loira).

Escrevo pra falar de UTI neo. Continuamos muito bem, graças a Deus aquele leito é ocupado pela Ana Carolina somente para comer e dormir, até ganhar peso. Mas sabe o que é difícil no meu caso? Não absorver o meio. Não sofrer com o entorno. Não ter empatia. Não sentir o peso no final do dia por quem está lá não só pra comer e dormir até ganhar peso.

Então, escrevo.

Escrevo pelo olhar da minha colega, que transmitiu medo, cansaço, devastação.
Escrevo pelos bebês que vejo, dia a dia, passarem por procedimentos diversos e, por vezes, dolorosos.
Escrevo por tantas histórias que fico conhecendo no decorrer dos dias.
E pelo beep interminável de tantos oxímetros.
Escrevo pela minha Bruna, que tira tudo de letra, mas não esconde a decepção quando a mamãe não vai junto passear.
Escrevo pela nossa família, que está absorvida pela nossa louca atual rotina.
Escrevo pelo marido, que se divide em quantas partes conseguir para que tudo continue seguindo.

Escrevo.

Em gratidão. 
Em comoção.

Escrevo. E oro.
E às vezes, choro.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Ana Carolina Hadlich Viana

Hoje faz uma semana que a Ana Carolina nasceu e vai ter textão :)

Tenho uma obstetra muito atenta a tudo e, graças a ela, vim contar uma história que caminha muito bem.

Estou tentando encontrar uma maneira de começar o texto, mas nenhuma consegue carregar o que gostaria de contar. O mundo de pensamentos que invadem uma "mãe de uti neonatal" e o misto de sentimentos. Os aprendizados, as reflexões. Sim, minha pequena Ana Carolina ainda mora na uti, leito 8, estrada geral da aflição diária.

No dia 09/11/16 fui fazer uma ultrassonografia, com 34 semanas e 6 dias de gestação. Fui porque a Andrea (a obstetra) achava que algo não estava certo. Vejamos. Com quase 30 semanas - por lentidão da minha pessoa - descobri-me diabética gestacional, depois do exame de sobrecarga glicêmica. Eu, que nunca na vida tive uma glicemia de jejum maior que 80. Mas na curva após 2h estava lá, um índice maior que deveria. Iniciei dieta e controle através do perfil glicêmico (furando os dedinhos) e segui bem pelas próximas 4 semanas. Na consulta das 30 semanas, Andrea começou a achar que minha barriga não tinha crescido muito. E eu comecei a achar que ela era uma exagerada. Além de mãe de um outro bebê de 1 ano e pouco, tinha muitas atividades relativas à reforma que estamos passando em nosso nova futura casa. Oras.

Nessa mesma semana gestacional fui fazer o ultrassom 4D (que só fiz mesmo porque tinha feito na gravidez da Bruna, então pra evitar cobranças futuras... Vai saber :)), onde também seria avaliado o crescimento do bebê e voilà, tudo certo. Quer dizer, minha bebê era pequena, mas estava tudo absolutamente dentro da normalidade - desde o peso, que não era dos maiores, até as funções das artérias todas. Mas era engraçado como eu, diabética, tinha um bebê tão pequeno crescendo em mim.

Exatamente no dia em que completei 34 semanas, tive consulta com a Andrea (assim, sem o Dra. pq nos conhecemos desde... desde quase sempre) e ela ficou muito aflita com o pequeno crescimento da minha barriguita no último mês. E também porque eu estava inchada. Mas ai, Andrea! Com 8 meses de gravidez não posso inchar? Mas era o rosto. Ai, que saco. Me passou os exames para pesquisa de pré eclâmpsia e eu coloquei a mão na sua cintura, para acalmá-lá e dizer que estava tudo bem. Sim, e me passou mais um ultrassom.

A pesquisa para pré-eclâmpsia deu negativa (fiz no dia seguinte). O ultrassom, no dia 09/11, resultou no nascimento da minha pequenina naquele mesmo dia. Aconteceu que 4 semanas depois da última avaliação por imagem a Ana ganhou somente 300g e apresentou sinais de sofrimento fetal por restrição de nutrientes. Graças a Deus ainda em tempo de não haver hipóxia (redução da oferta de O2), mas nas palavras do médico que fez o exame, não por muito tempo. Tinha que ser naquele dia. Tinha que ter uti neonatal. Tinha. E continuava sem fazer sentido.

Conseguimos a uti neonatal e fomos nós. Estou me contorcendo de aflição de lembrar o medo que senti, que sentimos... Não sabíamos o que estava por vir! De joelhos dobrados, de coração prostrado, de alma emocionada venho contar que Ana nasceu muito, muito bem! Pequenina, com 1.585kg, mas chorando em plenos pulmões e ficando com a gente quase até o final da cesárea - o que foi um grandessíssimo alívio, pois imaginei que o pediatra a colocaria embaixo do braço e sairia correndo para a uti.

Na cesárea, Andrea descobriu que a placenta estava calcificada em grau III (que vai de 0 a III) e o cordão umbilical bem fininho. E Andrea também continuou desconfiada da minha pessoa e resolveu pedir nova pesquisa para pré-eclâmpsia. Que dessa vez deu positiva.

Então foi isso. Minha placenta surtou, provavelmente pelo local onde se implantou e começou a morrer. Um dos sinais foi o anti hormônio não sei quem lá, que se traduziu como diabetes gestacional. Que não era (realmente todos os meus perfis glicêmicos ótimos e perfeitos). Mas a gente não tinha como saber! Minha Aninha não era muito nutrida pela placenta e ainda passou mais fome porque a mãe teve que fazer dieta!

Sou tão grata pelo "exagero" da querida Andrea, tão grata pela sua vida e pela sua competência que nem sei dizer! Hoje poderíamos não ter a Ana. Era questão de 1 ou 2 dias.

Ana não precisou de O2 em nenhum momento, não precisou de nenhuma intervenção além do soro glicosado (que já não precisa mais); atualmente pesa 1.605kg, mama no peito e complementa com mamadeira e tem tudo pra sair da incubadora ainda nessa semana!

Ainda não mencionei, mas ao Senhor toda honra e toda glória por nossas vidas e saúde, por todo cuidado, por cada dia e por cada grama adquirida. A Ele todo som de todos nós, a Ele em todo tom e em toda voz!

Sigo hipertensa e me recuperando da cirurgia, mas muito feliz e grata por toda palavra de carinho de todos vocês e pela nossa família maravilhosa que parece o exército da salvação hahahahah